O território da paz em Fortaleza

Naquela quarta-feira, houve mais uma manhã de buscas pelo Grande Bom Jardim. A área, na zona sul de Fortaleza, é a junção de cinco bairros: além do Bom Jardim, a Granja Portugal, o Siqueira, a Granja Lisboa e o Canindezinho. É também o encontro dos antigos moradores com as populações das secas e favelas, tangidas da beira-mar e do centro da metrópole a partir dos anos 70 - costuma narrar um deles. Há pouco, tornou-se um dos 12 “territórios da paz”, alvo do Programa Nacional de Segurança Pública com Cidadania (Pronasci).

Em paralelo, naquela quarta-feira de buscas, o estudante Lucieudo dos Santos Silva, 26, encontrou o que vem procurando desde novembro de 2008: “Demos uma pequena volta no Bom Jardim... Fomos rever alguns artistas”. Em meio aos 175 mil habitantes desse caleidoscópio, tem “o seu Paulo, do teatro, seu Geraldinho, sanfoneiro...”, cataloga José Wilton, 26, filho de um par junino e coordenador da quadrilha infantil Tesouro Nordestino. Tem também a família de Luciana Maciel, 24. “Tenho um tio e um primo que são músicos. Meu tio tem um grupo de senhores, o Forró Mais ou Menos”. São 47 artistas e artesãos no Bom Jardim, afirma o grupo de nove jovens à frente do Projeto de Mobilização e Difusão Cultural da Periferia.

Desde novembro passado, eles palmilham o Grande Bom Jardim. Andaram o Canindezinho, onde descobriram 38 artistas e artesãos, e seguem pelo Siqueira. Neste mês, programa a coordenadora Clevandira Dias, deve-se reunir o material para um livro de referência. A pesquisa, que deságua também em um vídeo e um site, tem o apoio da Secretaria da Cultura de Fortaleza e é parte do Projeto Jardim Brincante, que tem o amparo do Centro de Defesa da Vida Herbert de Souza. Alguns jovens participam ainda do Projeto Bom Jardim com Arte (Bomjarte), juntando-se a mais 140 na União dos Moradores do Bairro Canindezinho. Assim, com 72 entidades, vai-se tecendo a Rede de Desenvolvimento Sustentável do Grande Bom Jardim.

Questão de escolha

Vão-se tecendo manhãs como as de domingo, do vestibular da Universidade Estadual do Ceará (Uece). “Onde tem violência, tem também artista, projeto social, escola. É uma questão de escolha”, atenta Júnior Santos, 19, estudante. Ele cresceu onde o Pronasci aponta como uma das regiões do País “com altos índices de violência”.

E optou pelo curso de Filosofia na Uece. Mais cedo, ou mais tarde, Júnior deve ser mais um nas estatísticas de Evandro Lemos, educador do Bomjarte: 30 jovens se tornaram universitários, em seis anos de projeto. Não é pouco. Cada um é uma vitória importante no jogo diário contra as drogas, por exemplo. “De setembro para cá, 18 jovens foram assassinados, na área, pelo tráfico”, lamenta o educador. Cada um faz a diferença. “Agora, mais de 15 estão aguardando o resultado do vestibular. Isso é o que motiva a gente a continuar”, ganha fôlego.

CONHEÇA OS 11 PROJETOS PARA O GRANDE BOM JARDIM

Dos 11 projetos, apoiados pelo Pronasci, oito já foram licitados, destaca o diretor-geral da Guarda Municipal e Defesa Civil de Fortaleza, Arimá Rocha. Eles querem abraçar 3.428 jovens.

Mulheres da Paz: 300 lideranças femininas, selecionadas da comunidade, desenvolvem ações permanentes de orientação sobre os direitos fundamentais do cidadão.

Gabinete de Gestão Integrada Municipal (GGIM): integração entre os governos (federal, estadual e municipal) e a sociedade civil. Dentre as ações do GGIM, está a organização de dados locais sobre violência.

Estruturação do Conselho Comunitário de Defesa Social no Grande Bom Jardim: responsável pela formação de agentes da paz e da cidadania (multiplicadores de conhecimentos).

Aperfeiçoamento de guardas municipais: capacitação de 30 servidores da Guarda, revendo os princípios de policiamento comunitário, uso progressivo da força, mediação de conflitos e planejamento estratégico.

Mulheres em Ação: formar multiplicadoras de conhecimentos sobre a violência urbana e doméstica e os direitos das mulheres, por exemplo. Público-alvo: mulheres vítimas da violência, entre 15 e 24 anos.

Trilhas Urbanos: serão ofertados cursos como fotografia digital e informática, como vias de inclusão social, para 300 jovens egressos do sistema prisional ou em conflito com a lei.

Teatro Vivo: oficinas de teatro para 220 adolescentes e adultos em situação de vulnerabilidade social.

Dança: oficinas de dança contemporânea e de rua para 280 adolescentes e adultos de sete núcleos situados em territórios violentos da área.

Maracatu Estrela Bela: 11 oficinas de maracatu para 330 adolescentes e adultos.

Música Tocando a Vida: aulas práticas e teóricas de música para 756 jovens (15 a 24 anos).

Esporte e Lazer na Cidadania: oferta de práticas esportivas coletivas (basquete, capoeira, vôlei, dentre outras) para 750 adolescentes e jovens em conflito com a lei.

Protejo: acolhimento e capacitação de 210 adolescentes e jovens adultos em temas como Direito Público, Estatuto da da Criança e do Adolescente e políticas públicas de prevenção à violência.

FONTE: Guarda Municipal e Defesa Civil de Fortaleza